ZOONOSES
Todos estes
coronavírus são considerados zoonoses por definição e mecanismo de transmissão.
Zoonoses são
doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e
seres humanos.
Doenças ou
infecções porque ocorrem infecções inaparentes onde vertebrados se comportam
como portadores sem estarem doentes.
Várias
outras doenças, além dos coronavírus, tem sua origem em animais se adaptando
aos seres humanos e, portanto, zoonoses. Por exemplo o HIV, que derivou do
vírus de imunodeficiência símia, saiu da espécie melhor adaptada (primatas não
humanos) e passou a infectar o ser humano.
De acordo
com sua origem as zoonoses podem ser classificadas em dois grandes grupos:
ANTROPOZOONOSE: doença primária de animais e que
pode ser transmitida aos humanos. Ex. Brucelose, raiva, leishmania,
leptospirose.
ZOOANTROPONOSE: doença primária de humanos e que
pode ser transmitida aos animais. Ex. Tuberculose, Amebíase, difteria, malária.
Vale lembrar que 60% dos patógenos humanos são zoonóticos; 75% das doenças
humanas emergentes são de origem animal e 80% dos patógenos que poderiam ser
usados para bioterrorismo são de origem animal.
Esta é uma questão que não pode ser deixada de lado porque acredita-se que
as futuras guerras serão sem destruição dos materiais, seu foco serão somente
as pessoas. Tanto é que já se desenvolveram bombas de nêutrons que matam apenas
seres vivos.
Só que os custos são elevados, por esta razão laboratórios tem armazenados
uma série de patógenos prontos para serem usados em uma guerra biológica de
custo baixo.
Não é ser
fatalista, mas realista.
O uso de agentes biológicos como arma não é novidade para a
humanidade. Durante séculos, até a atualidade, a guerra biológica tem sido
objeto de muita pesquisa e especulação, mas de pouca ação, segundo o Dr. Luiz
Jacintho da Unicamp
O bioterrorismo e a bioguerra são, portanto, uma realidade. Ataques mais
graves possivelmente não teriam acontecido pela dificuldade ou mesmo
incapacidade de disseminar de maneira eficiente os agentes infecciosos, sem
dúvida o aspecto mais complexo no desenvolvimento das armas biológicas
O médico Donald Henderson foi coordenador do Programa de
Erradicação da Varíola da Organização Mundial da Saúde (OMS), iniciado em 1966,
e ajudou a eliminar por completo a doença em 1980, após fazer mais de 300
milhões de vítimas fatais no século 20.
Hoje dirige o Centro de Biossegurança Civil da Universidade
John Hopkins, nos Estados Unidos desenvolvendo protocolos para defender os
Estados Unidos contra uma possível guerra biológica.
Segundo ele, hoje é muito difícil erradicar alguma
doença.
A convenção internacional sobre
armas biológicas, 29 de junho de 1972, começou
a vigorar em 29 de abril de 1997 promulgado e assinado por 65 países, entre eles, Brasil, Estados Unidos
e Rússia. A Organização para a Proibição de Armas Químicas proíbe o uso a
grande escala, desenvolvimento, produção, armazenagem e transferência de armas
químicas.
Em 2018 passaram a ter 192
países-membros. Myanmar e Israel, que fazem parte da Organização das Nações
Unidas, não ratificaram o tratado. Angola, Coreia do Norte, Egito e Sudão do
Sul, também signatários da ONU, seguem fora da convenção.
Atualmente existem laboratórios capazes de produzir armas
biológicas espalhados pelo Iraque (antraz; Clostridium perfringens, cólera, salmonela, febre aftosa, e varíola do
camelo), , Irã, Síria ( antraz, peste, tularemia, botulismo, varíola, cólera, e
camelpox, e tem usado a ajuda da Rússia na instalação de antraz em ogivas de
mísseis), Líbia, Índia, Paquistão, China (febre hemorrágica), Estados Unidos
(varíola, pólio, ebola), Rússia (tularemia, varíola, pólio, antraz, ebola),
Coréia do Norte (varíola) e
Afeganistão, França (varíola), Iraque (varíola), Alemanha (tularemia, antraz,
mormo).
As armas biológicas mais fabricadas são feitas a partir do
Anthrax, Botulismo, Varíola e Ebola, pois são baratos, mais simples de se usar,
atravessa fronteira facilmente, de fácil transporte e de grande potência
devastadora, em pouca quantidade destrói grande território.
Dois quilos de anthrax ou varíola podem contaminar uma
população de 150 mil a 300 mil pessoas. Se forem 5 milhões pessoas, são
suficientes pouco mais de 30 quilos do vírus da varíola.
Pode-se dizer sem sombra de dúvida que
qualquer país que tenha laboratórios de classe 1 até 4 e que possua em seu
território doenças transmissíveis e letais poderá desenvolver sua arma
biológica.
Como diz o prof. Luiz Jacintho da Unicamp em seu trabalho Guerra biológica,
bioterrorismo e saúde pública, em tese, praticamente qualquer agente biológico
pode ser usado como arma.
O tipo de laboratório para produzir estas
cepas vai depender da periculosidade do agente. Vale lembrar que hoje, com a
engenharia genética é possível modificar certos genes tornando-os mais letais,
virulentos, transmissíveis.
No novo século, as características de organismos patogênicos
têm sido geneticamente modificadas de maneira a permitir seu emprego como arma.
Armas seletivas, que podem ir desde a desmobilização até a morte de
contingentes populacionais com bilhões de almas.
O primeiro vírus 100% artificial do mundo foi criado em
laboratório por cientistas da Universidade de Nova York. Eles copiaram o
material genético do vírus da polio e criaram o microrganismo.
Especialistas temem
que a técnica possa ser aplicada no desenvolvimento de armas biológicas, como o
vírus da varíola.
Armas biológicas são artefatos de controle difícil e de
potencial destrutivo desconhecido.
Nunca houve um emprego em larga escala dessas armas, salvo
talvez pelo exército japonês na Mandchuria, e a possibilidade do feitiço virar
contra o feiticeiro era, e é, um risco real.
Somente em anos recentes é que a biotecnologia veio trazer
instrumentos mais precisos para a elaboração de armas biológicas
Para se ter uma ideia da rapidez de disseminação de doenças,
em 1972 um peregrino retornou de Meca para a então Iugoslávia, com febre. Nas
quatro semanas seguintes ao seu retorno, 150 pessoas adoeceram em diversos
lugares. Foi esse o tempo necessário para se chegar, finalmente, ao diagnóstico
de varíola.
Com o tratado da Convenção sobre a Proibição de Armas
Biológicas (CPAB), esperava-se que os agentes biológicos não fossem mais
utilizados para fins de guerra ou bioterrorismo, mas eventos ocorridos após a
sua promulgação mostraram que não.
Em 1979, ocorreu um surto de antraz em Sverdlovsk, na antiga
União Soviética, inicialmente atribuído ao consumo de carne contaminada, que
causou grande número de mortes.
Posteriormente, verificou-se que o surto resultou da
dispersão de esporos de antraz, sob forma de aerossol, a partir de um acidente
ocorrido em uma instalação militar de microbiologia que produzia a bactéria Bacillus anthracis, embora a União Soviética fosse um dos estados parte da CPAB
desde 1975.
Em 1984, uma seita, no Oregon (Estados Unidos), utilizou Salmonella typhimurium para contaminar bufês de salada, provocando gastroenterite
em aproximadamente 751 pessoas.
Em 2001, logo após o ataque terrorista de 11 de setembro,
foram disseminados esporos de antraz, por meio do sistema postal americano,
ocasionando 23 casos de antraz, relatados ao CDC/Atlanta, sendo onze casos
confirmados de antraz pulmonar e doze casos de antraz cutâneo, dos quais sete
casos confirmados e cinco casos suspeitos.
O grupo ultranacionalista japonês, Aum Shinrikyo,
autor do ataque com gás Sarin no metrô de Tóquio em 1995 já havia empregado
esporos do B. anthracis, mas sem causar vítimas.
Portanto, a pergunta já
não é "se ocorrer?" e sim "quando?" e "o que
fazer?"
Uma vez que alguns agentes
utilizados como armas biológicas necessitam de um período de incubação, não
apresentando seus efeitos imediatamente após serem dispersos, um evento de
bioterrorismo pode ocorrer silenciosamente, sem nenhum aviso prévio, só sendo
percebido quando surgem seres humanos doentes ou mortos.
Assim, quando as autoridades
forem alertadas para a ocorrência de um evento deste tipo, o número de vítimas
já poderá ser expressivo, sobrecarregando os sistemas de saúde e acarretando
uma grande demanda de profissionais qualificados para atuar neste tipo de
ameaça, quantidades expressivas de medicamentos e vacinas, materiais e
equipamentos, além de informações e treinamento adequados.
Desta forma, e de um modo
aparentemente inesperado que a saúde pública passa a estar envolvida com um
assunto antes de interesse apenas militar.
Biossegurança
é "o conjunto de medidas e procedimentos que visam proporcionar ao corpo
social e a cada indivíduo o maior grau possível de biossegurança sob aspectos
científicos, econômicos, sociais, culturais e morais".
Um informe
técnico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), 2005, aborda
a importância de medidas de biossegurança no combate ao bioterrorismo, como a
iniciativa de montar uma rede de laboratórios de nível de biossegurança 3 (NB3)
capazes de trabalhar com agentes biológicos como o Bacillus anthracis, utilizado por terroristas nos atentados em 2001 nos Estados
Unidos, e com isso aumentar a capacidade do país na área de diagnóstico.
Outra abordagem do tema em
estudo pode ser verificada no trabalho de Kottow sobre bioterrorismo, biodefesa
e bioética, 2003, que trata de assuntos como o aparecimento de angústias
sociais, que têm como características tanto o pânico social quanto as situações
de risco, produzidas por este tipo de evento.
Os agentes biológicos mais
citados nas publicações pesquisadas são os causadores de antraz (25%) e de
varíola (15%).
Radosavljevic em seu trabalho Bioterrorism. Types of epidemic, new
epidemiological paradigma and levels of prevention, 2007, ressalta que o
objetivo principal destes atos é a disseminação de medo, pânico, ansiedade e
insegurança na população, provocando a perda de confiança nas autoridades
governamentais e prejuízos econômicos.
Os ataques
resultam em doença e morte, destroem o equilíbrio psicológico e emocional da
população e expõem os indivíduos à submissão pelo medo.
Uma guerra biológica não
se baseia apenas no lançamento de um agente, mas cria e se efetiva baseado em
vários fatore sanitários, econômicos, sociais como por exemplo:
Instaurar
o medo
Criar
pânico
Ansiedade
Insegurança
Perda de
confiança nos órgãos públicos
Prejuízos
econômicos
Causa
doença desconhecida
Alta
mortalidade
Desequilíbrio
psicológico
Submissão
pelo medo
Falta de controle
sobre os agentes biológicos
Silencioso
Tempo de
incubação longo
Sistema
de saúde despreparado
Ausência
de tratamento
Desconhecimento
Como arma
de guerra o uso de agentes biológicos sempre existiu nos enfrentamentos desde a
pré história.
Na pré
história usavam machados de pedra, facas, flechas, lanças impregnadas de fezes.
No Século XV, Pizarro
presenteou os nativos com roupas contaminadas com varíola; em 1710, tropas
russas utilizaram-se da peste contra a Suécia; tropas inglesas também
distribuíram cobertores contaminados com varíola, durante a Guerra
Franco-Indiana (1754-1767) e durante a Guerra de Independência dos Estados
Unidos.
Durante a I Guerra Mundial
começa a sistemática utilização da guerra biológica. Nesse período, os alemães
empreenderam algumas tentativas para contaminar cavalos com mormo das tropas
americanas.
Na Antiguidade e na Idade Média os Exércitos usavam corpos em decomposição para contaminar o abastecimento de água de uma cidade sitiada, ou
atiravam cadáveres de
vítimas de varíola ou
peste bubônica (conhecida na Idade Média como peste negra) por catapultas que apresentava também um
impacto moral pela visão de um corpo voando sobre a muralha e
se espatifando no pátio interno da fortaleza ou cidade, além do forte odor do corpo em putrefação.
Um dos mais conhecidos e
desastrosos usos de armas biológicas foi realizado pelos pais da Guerra
Biológica, os Mongóis, comandados por Jani Beg em 1343, descendente de Genhis
Khan, atiravam para dentro dos muros da cidade portuária inimiga de Kaffa na
Criméia, hoje província da Ucrânia cadáveres em estado avançado de decomposição
de soldados mongóis que sucumbiram à Peste Negra.
Mas não obteve vitória
porque seu exército sucumbiu à peste. O feitiço virou contra o feiticeiro.
Como se isso não fosse o
suficiente, a doença começou a se alastrar pela cidade, causando a morte em
massa dos inimigos do imperador. Os poucos sobreviventes do ataque, fugiram,
espalhando ainda mais a Peste pelo continente Europeu acreditando-se que assim
se originou a epidemia na Europa matando de 75 a 200 milhões de pessoas entre
os anos de 1347 a 1351.
Apesar de desastroso foi a
origem das guerras biológicas que acabaram se disseminado pelo mundo em diferentes
épocas imitando ou criando novas formas bélicas.
Conquistadores espanhóis
comandados por Francisco Pizarro, em 1529, subjugaram o império inca, enviavam
soldados ou escravos à frente com lanças com pano impregnado de secreções com
varíola contra os indígenas e ao levantar acampamento abandonavam objetos
contaminados.
Em 1763, o exército
britânico enviou cobertores e lençóis de hospital para pacientes com varíola
aos índios Delaware, aliados dos franceses.
Na primeira guerra (1914 a
1918) a Alemanha contaminou ovelhas com carbúnculo e mormo que iam para a
Russia.
Mormo foi usado na
primeira e na segunda guerra mundial, pela Alemanha, na Rússia, para debilitar
e matar cavalos e soldados inimigos.
Entre 1918 e 1935, os
donos de terras, no Estado de São Paulo, conseguiam roupas que haviam sido
usadas por vítimas mortais da varíola em hospitais e eram espalhadas,
juntamente com outras oferendas, ao longo dos trilhos que se sabia serem usados
pelos Índios. Isto quase dizimou a população indígena do estado de São Paulo.
Entre 1940 e 1944 o Japão
bombardeou 11 cidades chinesas com bombas contendo peste e tifo.
Os EUA, em 1941 lançou
sobre Changteickn, bombas com Y. pestis ocasionando aproximadamente 1.700
mortes de soldados japoneses.
O VÍRUS
Há
uma discussão entre aqueles que os consideram seres vivos por terem carga
genética produzindo outros iguais, evoluem em resposta ao ambiente através de
variabilidade e seleção e se reproduzem.
Para
outros não são seres vivos por não terem metabolismo próprio, não podem captar
nutrientes, não utilizam energia e nem realizam qualquer atividade biosintética.
Os
vírus são seres muito simples e pequenos (medem menos de 0,2 µm – cada µm equivale
à milésima parte do mm), formados basicamente por uma cápsula proteica
envolvendo o material genético, que, dependendo do tipo de vírus, pode ser
o DNA, RNA ou os dois juntos.
A
palavra vírion ou víron é usada para se referir a uma única
partícula viral que estiver fora da célula hospedeira.
Vírus
é uma partícula basicamente proteica que pode infectar organismos
vivos. Vírus são parasitas obrigatórios do interior celular e isso
significa que eles somente se reproduzem pela invasão e possessão celular.
Tipicamente, estas partículas carregam uma pequena quantidade de ácido nucleico
(seja DNA ou RNA, ou os dois) sempre envolto por uma cápsula proteica
denominada capsídeo.
Os
vírus tem diferentes formas dependendo de sua carga genética.
Alguns
vírus são formados apenas pelo núcleo capsídeo, outros, no entanto, possuem um
envoltório ou envelope externo ao nucleocapsídeo. Esses vírus são denominados
vírus encapsulados ou envelopados.
O
envelope consiste principalmente em duas camadas de lipídios derivadas da
membrana plasmática da célula hospedeira e em moléculas de proteínas virais,
específicas para cada tipo de vírus, imersas nas camadas de lipídios.
As espículas, também chamadas de chaves do vírus, são
estruturas proeminentes, geralmente constituídas de glicoproteínas e lipídios,
que são encontradas ancoradas ao envelope, expostas na superfície responsáveis
por se ligarem às células.
A conformação destas espículas precisa encontrar células que
tenham receptores (fechaduras) que se liguem a estas espículas específicas. Por
isto a especificidade dos vírus pelo fato de diferentes células terem
diferentes receptores.
São
as moléculas de proteínas virais que determinam qual tipo de célula o vírus irá
infectar. Geralmente, o grupo de células que um tipo de vírus infecta é bastante
restrito.
Vírus são parasitas
intracelulares obrigatórios. Assim, para executar o seu ciclo de vida, o vírus
precisa estar no interior de uma célula.
Em muitos casos os vírus
modificam o metabolismo da célula que parasitam, podendo provocar a sua
degeneração e morte. Mas não é sua atividade fim uma vez que ele precisa da
célula viva para se manter vivo. Esta é uma das razões dele produzir um grande
número de descendentes e de forma o mais rápido possível, uma vez que esta
célula hospedeira poderá vir a morrer.
Para isso, é preciso que o
vírus inicialmente entre na célula: muitas vezes ele se adere à parede da
célula e "injeta" o seu material genético ou então entra na célula
por englobamento - por um processo que lembra a fagocitose, a célula
"engole" o vírus e o introduz no seu interior chamado Endocitose-mediada-por-um-receptor,
que consiste na ligação de uma molécula extracelular a um receptor na membrana
celular.
Estes receptores,
igualmente constituintes da membrana, estão muitas vezes associados à proteína
do citoplasma denominada clatrina que forma uma
depressão na membrana; quando um receptor se liga a uma molécula, a depressão
aumenta até se transformar num vacúolo rodeado de clatrina, que entra na
célula.
A clatrina é
uma proteína que
desempenha um importante papel no processo de formação de vesículas membranares no
interior das células eucariontes, as quais são responsáveis pelo transporte de
material proveniente da membrana plasmática, entre os compartimentos endossomais e da face
trans do aparelho de Golgi.
Quando a relação parasitária se estabelece, o material
genético virótico assume o comando da célula, voltando quase que exclusivamente
o metabolismo para originar centenas de novos vírus em questão de minutos.
CoViD 19
Os coronavírus são
zoonóticos e se tornaram os principais patógenos emergentes responsáveis por
doenças respiratórias.
Trata-se de uma grande
família de vírus de RNA de fita simples pertencentes à ordem Nidoviralis,
família Coronavirinae e subfamília orthocoronavirinae a qual pertence o novo coronavírus.
A subfamília
Orthocoronaviridae, a qual pertence o novo coronavírus, denominado pelo Comitê
Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV) de SARS-CoV-2, é ainda subdividido
em 4 gêneros: alfa (coronavírus 229E e NL63), beta (coronavírus OC43,
HKU1, SARS-COV e MERS-COV), gama e delta.
Os coronavírus alfa e beta são capazes de
infectar mamíferos, incluindo humanos, enquanto que os coronavírus gama e delta
tendem a infectar aves.
Os Coronavírus que infectam aves são monitorados há
muitos anos nos criadouros domésticos devido ao seu possível impacto na
produção e na economia. Porém, em aves silvestres, há poucos estudos
disponíveis.
O artigo “Divergent coronaviruses detected in wild birds in Brazil, including a
Central Park in São Paulo” (Coronavírus divergentes detectados em
aves silvestres no Brasil, incluindo um Parque no Centro de São Paulo),
publicado na revista Veterinary Microbiology em 2019, apresentou uma
retrospectiva da presença de um Coronavírus conhecido como Vírus da Bronquite
Infecciosa (IBV) em aves silvestres no ambiente natural.
Das 746 aves amostradas, coletadas de 2006 a 2013 em
diferentes regiões do Brasil, apenas 6 tiveram a presença de Coronavírus dos
grupos delta e gama confirmadas, nos estados do RS (Lagoa do Peixe) e SP
(Parque Ibirapuera).
Parque Nacional da Lagoa do Peixe, Mostardas e Tavares, RS
Estes vírus tem uma importância maior na
parte ecológica, para o entendimento da disseminação do vírus entre as aves
silvestres e domésticas.
Em outras palavras, o que queremos
mostrar é que temos um vírus (não patogênico para humanos), que circula entre
as aves e pode causar problemas econômicos futuros”, explica Jansen de Araujo,
pesquisador do Laboratório de Virologia Clínica e Molecular da Universidade de
São Paulo e um dos autores do artigo.
Muitos grupos de aves migratórias passam por
localidades na América Central, nos Estados Unidos e no Canadá antes de
chegarem ao Brasil para passar o período não reprodutivo nos trópicos.
Um dos locais de pousio no Brasil é o Parque Nacional da Lagoa
do Peixe (RS), no qual a
pesquisa detectou a circulação de coronavírus em aves migratórias como o
talha-mar (Rynchopus
niger), o maçarico-branco (Calidris alba) e o maçarico-de-sobre-branco (Calidris fuscicollis).
A pesquisa também
encontrou o coronavírus em três ganso-chinês (Anser
cygnoides) no Parque Ibirapuera em
São Paulo.
O Vírus da Bronquite
Infecciosa (IBV) aviário é um coronavírus de grande importância econômica,
encontrado também em aves silvestres e domésticas.
As aves podem portar CoVs,
que causam lesões em trato gastrintestinal, respiratório, urinário e
reprodutor, levando a taxas de mortalidade de cerca de 30% e quedas bruscas na
produção de ovos (em granjas).
O estudo do Dr. Jansen foi
destinado a entender a possibilidade de disseminação deste vírus carreados por
aves migratórias. Observamos que é possível um vírus que está circulando no
hemisfério Norte viajar até o hemisfério Sul através de rotas migratórias.
Os vírus que encontramos
pertencem ao grupo Gama e Delta. O Coronavírus circulante atualmente, COVID-19,
está em outro grupo.
Neste artigo é dito que
existem poucos estudos no Brasil para dizer se os vírus detectados no Parque
Ibirapuera, SP, e na Lagoa do Peixe, RS representam riscos para as colônias de
aves migratórias presentes nestes locais e para os criadouros de aves
domésticas.
Acreditam que aves
migratórias podem trazer vírus de outros continentes para nosso país e infectar
outras aves se houver o contato direto. É importante que fiquemos atentos para
que estes eventos sejam monitorados para que medidas de controle possam ser
tomadas rapidamente.
Não é possível afirmar,
segundo Jansen, que as aves migratórias sejam capazes de hospedar o CoViD 19,
pois não temos nenhum estudo relacionado a isso aqui no Brasil ainda.
O
novo coronavírus possui um material genômica de RNA fita simples sentido
positivo, ou seja, serve diretamente para síntese proteica, assim ocorre uma
maior velocidade na geração de novas cópias de vírus na célula infectada.
São
envolvidos por uma capa de gordura e proteína, e seu tamanho é de
aproximadamente cem nanômetros (um milionésimo do milímetro). Além também da
presença de várias proteínas em sua superfície, dentre elas está a Proteína
Spike, ou Proteína S, que é uma espícula glicoproteica que se liga fortemente à
enzima ECA2, presente em algumas de nossas células, o que torna sua infecção
mais fácil.
E
é essa proteína característica que faz com que os coronavírus sejam nomeados
assim: sua conformação ao redor dos vírus lembra ligeiramente uma coroa.
Possui
outra importante proteína em sua membrana chamada hemaglutinina esterase
responsável pela sua entrada na célula hospedeira.
Há
mais de 1.000 sequenciamentos genéticos do novo coronavírus já realizados,
basicamente divididos em três grandes grupos, segundo os pesquisadores: A, B e
C, sendo B derivado de A, e C derivado de B.
Estudo
da Universidade de Cambridge dividiu os primeiros casos da doença em 3 grandes
grupos A, B e C .
O
tipo A é considerado o “original”, que está mais próximo do vírus encontrado
em morcegos e pangolins, dois animais que têm sido
associados ao início da pandemia. Não se sabe até agora, porém, como o vírus
chegou até o primeiro paciente humano.
O
tipo B tem maior incidência no Leste da Ásia, mas não se espalhou muito a
partir dali, afirmam os pesquisadores. Isso pode ter acontecido, segundo eles,
porque o vírus pode ter encontrado resistência imunológica ou ambiental para se
espalhar entre pessoas de outras localidades do mundo.
O
tipo C é considerado o majoritário na Europa, e foi encontrado nos primeiros
pacientes de países como França, Itália e Suécia. Essa categoria de
sequenciamentos genéticos também inclui o Brasil.
Os casos que surgiram no
Brasil são muito mais ligados ao vírus que circulou na Europa do que aquele que
apareceu na China. “A rede algorítmica (que analisou a proximidade das
variações do vírus em cidadãos de diversos países) reflete uma ligação mutante
entre o genoma viral da Itália e do Brasil”, escrevem os autores da pesquisa.
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