INTRODUÇÃO
Vamos começar nossa conversa discutindo o que é e para que serve um documento oficial.
Um documento é
qualquer registro de informação independentemente do formato ou suporte utilizado para registrá-las. É uma declaração escrita que tem caráter comprovativo.
Existe uma variedade e tipos de documentos espalhados por todo o mundo, cada qual com sua função e objetivo. Eles podem atestar, informar, solicitar, declarar, identificar, estabelecer uma relação de direito, executar e dentre outras.
Quando um ato, por exemplo um documento informativo, é executado pelo governo ou por uma autoridade administrativa reconhecida diz-se que é oficial, ou seja, ele é emanado de autoridade pública ou de autoridade competente.
Oficial é aquilo que é oficial. Usado para referir-se a algo que conta com o aval e o reconhecimento do Estado ou de algum órgão ou organização que tem o poder de autorizar, conforme com as formalidades legais.
Em 2009, o Ministério da Saúde publicou o Manual de Controle de escorpiões que, segundo o Secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, os serviços de saúde carecem de material instrucional que estabeleça normas e procedimentos para o manejo correto desses animais.
O público-alvo deste manual são os profissionais da saúde que atuam em serviços municipais e estaduais de vigilância em saúde e controle de animais peçonhentos.
Assim, este documento oficial de caráter informativo é uma norma, ou seja, estabelece as regras mínimas e aceitáveis a serem cumpridas para se atingir o objetivo proposto e também descreve a forma como se deve executar as atividades necessárias para se atingir este objetivo, ou seja os procedimentos.
Desta forma ele passa a ser a referência nacional para o combate aos escorpiões para todos aqueles que se propõem a realizar o combate, sejam do setor público ou privado.
Sob meu ponto de vista há uma série de informações que me parecem não condizer com a realidade técnica sobre o assunto, e que, portanto, merecem uma revisão.
Da mesma forma que fiz com a postagem sobre a RDC 52 de 2009 vamos analisar estes pontos antes de entrarmos no assunto propriamente dito.
Este manual em seu item 2.8 questiona Se o controle químico funciona? explicando da seguinte maneira:
Além
disso, possuem capacidade de permanecer com seus estigmas pulmonares fechados
por um longo período.
A
aplicação de produtos químicos de higienização doméstica compostos por
formaldeídos, cresóis e paracloro-benzenos e de produtos utilizados como
inseticidas, raticidas, mata-baratas ou repelentes do grupo dos piretróides e
organofosforados não são indicados por causarem o desalojamento dos escorpiões
para locais não expostos à ação desses produtos, aumentando o risco de
acidentes.
Além
disso, cria-se a falsa sensação de proteção por parte dos moradores que
acreditam que o problema foi resolvido, passando a negligenciar o trato com o
ambiente.
No caso
da necessidade de controlar baratas em locais com presença de escorpiões,
recomenda-se o uso de formulações tipo gel ou pó. Esta atividade deve ser
executada somente por profissionais de empresas especializadas.
Importante: O agente de saúde não deve realizar nem recomendar ao proprietário do imóvel a aplicação de produtos químicos”.
Em primeiro lugar não respondeu à sua própria pergunto deixando-a em aberto. De qualquer forma dizer do risco de desalojamento e falsa impressão de controle está totalmente correto.
Entretanto dizer que da repelência de piretróides e organofosforados não é bem assim, depende da formulação. Se estivermos falando de concentrados emulsionáveis concordo plenamente, mas não posso concordar com formulações de lenta liberação
Não existe
nenhum trabalho que mostre a resistência dos escorpiões a qualquer tipo de
princípio ativo de nenhuma classe de inseticidas.
Dizer que os
estigmas respiratórios ficam fechados por muito tempo leva a crer que queiram
dizer que isto dificulta o combate.
Vamos entender
que tipo de combate poderia ser aplicado de maneira a que os estigmas fechados
dificultariam a ação do inseticida.
Isto poderia
acontecer no uso do termonebulizador cuja nevoa precisa entrar pelo sistema
respiratório para exercer sua ação.
Se o
escorpião estiver com os estigmas ocluídos este procedimento realmente não surtirá
efeito.
Mas o uso de
outros processos de desinsetização com formulações de lenta liberação com efeito
residual não sofrerá nenhuma interferência dos estigmas ocluídos.
Vamos falar
sobre isto mais à frente.
Dizer que o "hábito de permanecer longo tempo parado, leia-se meses, e que este hábito torna o tratamento químico ineficaz", é temeroso.
Explico. Primeiro que ele não fica meses parado, ele fica algum tempo parado para esperar presa, para trocar de pele, para se alimentar, mas isto não significa meses, esta informação não está correta.
Além disto que torna o tratamento químico ineficaz também não está correta uma vez que depende da técnica usada, ou seja, formulação, técnica de aplicação, que veremos mais à frente.
Uma outra
questão é o fato de incluir no rol de produtos químicos de higienização
domestica para combate aos escorpiões os raticidas. Raticida é para combate aos
ratos e não tem efeito de repelência, consequentemente não há desalojamento
pois não haveria lógica alguma em fabricar raticidas com efeito desalojante.
Entretanto no item 2.8 é dito que “No caso da necessidade de controlar baratas em locais com presença de escorpiões, recomenda-se o uso de formulações tipo gel ou pó. Esta atividade deve ser executada somente por profissionais de empresas especializadas”.
Então porque não incluir na competência de combate as empresas especializadas que poderiam, em muito, ajudar os municípios neste trabalho. As empresas especializadas contam com equipes muito bem preparadas para exercerem este procedimento.
Eu acredito que os municípios deveriam se unir mais a estas empresas o que resultaria em melhores ações de combate que os próprios municípios, que na maioria das vezes não tem recursos humanos e materiais para o combate aos sinantrópicos e peçonhentos.
Outra afirmação que chama atenção é dizerem que
E existem inseticidas registrados para serem usados no combate aos escorpiões. Produtos nacionais com registro nacional. O existir ou não registro internacional não vem ao caso porque se fossemos usar um produto de outro país ele precisaria estar registrado na Anvisa para poder ser usado em território nacional exigindo as mesmas documentações para o registro de produto nacional.
Abaixo está um destes produtos com registro da Anvisa. Logo existe sim, produto registrado e se registrado está caracterizada sua eficácia e esta eficácia esta respaldada por experimentos confiáveis caso contrário, a Anvisa não o registraria.
Outro fato que chama atenção na assertiva dita acima é que “Até o presente momento não foi definida cientificamente a eficácia dos produtos químicos no controle escorpiônico em ambiente natural”.
Vamos entender que não queremos e nem podemos realizar o combate em ambiente natural, não é este, por força de lei, nosso ambiente de trabalho, mas sim nos ambientes antropomórficos, ou seja, aqueles criados pelo homem que em virtude de suas características acaba trazendo para junto de si organismos sinantrópicos, ou seja, aqueles que mesmo o homem não querendo eles acabam convivendo conosco nos trazendo uma série de problemas.
Não é necessário dizer sinantrópicos nocivos pois na medida em que são sinantrópicos já são por si só nocivos, diferente dos domésticos que convivem com o homem por sua vontade própria, seja, como fonte alimentar, trabalho, lazer ou companhia.
Esta questão já foi discutida em postagem anterior.
OS ESCORPIÕES
Os escorpiões existem há mais de 400 milhões de anos (fósseis do Carbonífero), sendo, portanto, considerados os aracnídeos mais antigos que se conhece.
Estão entre
os primeiros animais a conquistarem o ambiente terrestre e apresentam ampla
distribuição, sendo muito parecidos com os atuais.
São conhecidas cerca de 1600 espécies em todo o mundo. No Brasil, há cerca de 160 espécies.
Análises de
dinâmica populacional de T. serrulatus e T. bahiensis (reprodução
partenogenética), comparando taxas teóricas de reprodução, concluíram que, após
a 5ª geração, existiriam em torno de trinta e três milhões de novos indivíduos.
Em razão
dessa elevada prolificidade, em associação com sua toxicidade e competência
invasiva para habitações humanas, a espécie T. serrulatus vem
representando um enorme problema para a Saúde Pública, sendo importante o
conhecimento de sua mobilidade em território urbanizado.
Respiram
por meio de filotraqueias, pulmões foliares, como páginas de um livro. O ar
entra por aberturas denominadas de espiráculos e nas filotraqueias (pulmões
foliáceos), que são traqueias modificadas com cavidades amplas cheias de
dobras, bastante vascularizadas e onde ocorrem as trocas gasosas.
O
reconhecimento dos escorpiões se dá principalmente pelos seus agravos à saúde
através de sua picada injetando um veneno de ação neurotóxica. A morte
ocasionada por este veneno se dá pela dor.
Dentre todas
as espécies três delas são as mais importantes em termos de saúde pública: Tityus
bahiensis, Tityus serrulatus e Tityus stigmurus principalmente Tityus
serrulatus.
Os
aracnídeos (aranhas, carrapatos, ácaros, escorpiões,) possuem
esqueleto externo (um exoesqueleto), uma estrutura dura, quitinosa, que reveste
seu corpo, sem antenas, com quatro pares de patas torácicas e um par de palpos.
Quando
atinge um tamanho se faz necessária a troca de exoesqueleto (exuvia) – a muda
ou ecdise.
O animal ficará, então, com dois exoesqueletos: o velho e o novo, entretanto, o novo esqueleto permanecerá mole.
Acontece
então a muda, que é o momento em que o exoesqueleto velho é eliminado.
Após a
eliminação, ficará o novo e mole exoesqueleto.
A partir daí
irá expandir seu corpo, utilizando ar ou água.
Quando o
novo exoesqueleto endurecer, essa água e ar serão substituídos pelos tecidos do
animal.
Escorpiões
são animais a priori solitários, porém a limitação de micro-habitats
favoráveis, pode forçá-los a tolerar a presença de outros indivíduos.
Apesar do exoesqueleto quitinoso existem inúmeros locais que não são quitinizados, indicados pelas setas vermelhas, como as articulações, pecten, pelos e principalmente os palpos e a parte lateral do metassoma.
Isto é importante porque estes locais acabam sendo susceptíveis à ação dos inseticidas principalmente os de lenta liberação, uma vez que a formulação fica aderida ao animal liberando o ativo que penetra pela epiderme causando a intoxicação sem causar efeito de desalojamento, repelência.
ASPÉCTOS COMPORTAMENTAIS
Algumas
espécies como T. bahiensis são mais gregários. No período de reprodução
a maioria das espécies se torna gregário.
Normalmente
vivem perto de onde nasceram, isso significa que, se eles aparecem dentro de
casa, provavelmente estão nascendo dentro ou muito próximos.
Foi
realizado um trabalho em cemitério de Americana, SP, de captura, marcação e
recaptura num período de 359 horas, para avaliar dispersão de T. serrulatus.
O cemitério foi dividido em 4 áreas.
Passam o dia sob pedras, paus podres, folhas mortas,
em pequenas covas ou nos cupinzeiros, para fugir à luz do sol.
À noite, saem em busca de alimento.
São animais carnívoros e de hábitos noturnos,
alimentando-se de baratas, cupins, moscas, aranhas.
Podem jejuar por tempo prolongado. Observações em
cativeiro registram um jejum de até 23 meses.
T. serrulatus apresenta comportamento gregário
e são capazes de se manter em jejum por 40/50 dias.
A frequência
de hidratação é maior após se alimentar. Apresentam adaptação à falta de água
porque seu corpo apresenta um exoesqueleto quitinizado protegendo-os da
desidratação e ainda armazenam agua e evitar a perda da mesma através da
superfície de seus corpos.
Em
experimento de dois meses de observação as espécies dispenderam 15% de seu tempo
realizando a limpeza de telson, quelíceras e pernas.
Em
outro teste com T. serrulatus, 110 horas de observação, observou-se que
durante o experimento passaram:
16,47 horas do tempo explorando o ambiente
4,58 horas do tempo foi exploração com paradas
4,22 horas se limpando
79,22 horas imóveis
3,17 horas forrageando
4,71 horas se hidratando
O pico de
atividade foi entre 21:00 e 23:00
PORQUE
FICAM TANTO TEMPO PARADOS?
Tipo de tática de caça principal que é o “senta e
espera” (catalepsia de até 6 horas)
Limpando o pecten e pelos do corpo (tricobótrias) com
função sensorial (localizar presas).
Passar o télson nas quelíceras: esfregar o télson
entre as quelíceras, limpando-o.
Limpar-se com o segundo par de pernas: friccionar o
segundo par de pernas na parte anteroventral e lateral de seu corpo.
QUANDO
TOCAM O SOLO?
Porque interessa saber isto? Primeiro porque precisamos conhecer o inimigo antes de combate-lo para que possamos desenvolver uma estratégia que tenha eficácia no combate.
Segundo para que possamos entender qual seria o mecanismo de intoxicação e a partir daí escolher a formulação mais adequada.
Como já foi falado a formulação mais adequada é a de lenta liberação. E isto tem tudo a ver com o comportamento do escorpião ter um bom tempo em contato com o solo pois esta formulação tem alto poder residual e quando o escorpião encosta no chão fica impregnado com a formulação se intoxicando.
Durante deslocamento o pecten está
sempre em contato com o solo
Quando em repouso o metassoma está enrolado e deitado
ao lado do corpo e pernas recolhidas próximo ao corpo
Quando se alimentando e aos filhotes
Quando estão à espreita pela presa
Os
escorpiões conseguem comer quantidades imensas de alimento, mas conseguem
sobreviver com 10% da comida de que necessitam, podendo passar até um ano sem
comer e consumindo pouquíssima água, quase nada.
O que eu quero dizer com isto é que a justificativa de realizar o combate às baratas é um mecanismo indireto de combate aos escorpiões não tem sentido pelo fato deles poderem ficar um tempo enorme sem se alimentar mas mantendo suas atividades normalmente.
O USO
DE INSETICIDAS
Os inseticidas a serem usado são aqueles que não
causem repelência pois acabam se escondendo em locais que podem aumentar o
risco de acidentes.
Além disso, cria-se a falsa sensação de proteção por
parte dos moradores que acreditam que o problema foi resolvido, passando a
negligenciar o trato com o ambiente, conforme relata o manual do Ministério da Saúde.
O uso de inseticidas de lenta liberação são os mais
indicados. Isto porque estas formulações, microencapsulado e pó molhável tem alto poder residual e o escorpião ao passar por cima dela ficando impregnado com a formulação levando-a por onde for e a formulação vai liberando lentamente o ativo que penetrando pelas partes não esclerotizadas acaba intoxicando o animal.
O uso de termonebulização (gotas de 25mm), UBV (gotas entre 25 e 50mm) ou atomizador regulado para UBV tem a vantagem de penetrar em esconderijos onde não temos acesso e isto ajuda no combate. É lógico que aí estaremos usando formulação concentrado emulsionável que tem efeito desalojante.
Mas antes que o efeito cause oclusão dos espiráculos muitos já terão sido expostos ao ativo. Por isto é interessante associar esta aplicação com o uso de formulações de lenta liberação aplicado este antes da termonebulização.
Já houveram manifestações de que haverá impregnação do inseticida da termonebulização nas formulações de lenta liberação. Isto não acontece porque as moléculas da névoa evaporam rapidamente e por esta razão não deixa residual.
Entendemos ação
fumigante àquela aplicada na forma de vapor, gás, neblina e que agem através da
penetração do inseticida pelos espiráculos juntamente com o ar, sendo conduzido
para o interior do organismo até músculos e nervos.
Também pode atuar
através de partes não esclerosadas como patas, aparelho bucal, regiões intersegmentares do corpo do escorpião.
Este efeito se
manifesta pela pulverização direta sobre o inseto uma vez que esta técnica
permite o inseticida se expandir no ambiente ficando neste por um determinado
tempo.
Tempo este que é
bastante curto pois as gotas são muito pequenas, geralmente menores de 50 mm e por esta razão evaporam muito
rapidamente.
Sua vantagem reside
em uma maior área de controle com menos produto, redução rápida da população
infestante e penetração em locais onde não conseguimos acessar.
OBSERVAR - CUIDAR – EVITAR - ORGANIZAR
Vigas e telhados em porões, sótãos e forros
Ralos de cozinha, banheiros e área de serviço
Móveis, cortinas, estantes, quadros, lareiras
Caixas e pontos de energia
Armários sob pias ou gavetas
Sistema de refrigeração de ar
Locais com material de construção (pilhas de telhas e
tijolos, blocos de cimento, entulho, pedras, amontoados de madeira, placas de
concreto)
Caixas de gordura, canalizações de água, caixas de
esgoto, de energia
Verificar atentamente onde há mato junto aos muros
Olhar dentro de calçados e roupas antes de usar
Não colocar mãos e pés dentro de buracos, montes de
pedras ou lenha
Usar sempre calçados e luvas nas atividades de jardinagem
Usar telas e vedantes em portas e janelas
Usar ralos protetores
Manter limpos quintais e jardins, não acumular folhas
secas e lixo domiciliar
Cuidar acúmulo de agua e ambiente úmido
Limpar terrenos baldios situados a cerca de dois
metros (aceiro) das redondezas dos imóveis
Não jogar lixo em terrenos baldios
A preparação do solo para plantio pode promover o
desalojamento de escorpiões de seu habitat natural (barranco, cupinzeiros,
troncos de árvores abandonadas por longos períodos).
Acondicionar lixo domiciliar em recipientes
apropriados e fechados, entregando para o serviço de coleta.
Objetos descartados, garrafas empilhadas, tanques,
fornos de barro e barrancos, galpões, depósitos, viveiros de mudas e plantas
Remover folhagens, arbustos e trepadeiras junto às
paredes externas e muros
Manter fossas sépticas bem vedadas
Rebocar paredes externas e muros para não apresentar
vãos ou frestas
Vedar soleiras de portas com rolos de areia ou rodos
de borracha
Reparar rodapés e assoalho soltos e colocar telas nas
janelas
Telar as aberturas dos ralos, pias ou tanques
Telar aberturas de ventilação de porões e manter
assoalhos calafetados