domingo, 20 de março de 2011

A URBANIZAÇÃO DE VETORES E RESERVATÓRIOS SILVESTRES

Uma questão que comumente ouvimos falar é que o aumento populacional de sinantrópicos é uma conseqüência de desequilíbrio ambiental. Mas nem sempre é assim. Pelo menos no ambiente humano cujo processo de urbanização começou há aproximadamente 3.200 anos antes de nossa era.

No Oligoceno, cerca de 35-38 milhões de anos atrás, dois novos grupos de mamíferos, os roedores caviomorfos e os primatas primitivos foram introduzidos na América do Sul.

Provavelmente se originaram nas florestas tropicais úmidas da África e entraram na América do Sul vindos em blocos de terra flutuantes (fragmentos florestais) que se desprenderam da costa africana e foram favorecidos pelas correstes marítimas e pelos ventos.

No período Pleistoceno já são encontrados habitats humanos em cavernas e acampamentos. No período Epi-Paleolítico até 8.500 anos antes de nossa era já são vistos os primeiros sinais de vilas.

E neste momento o homem já estava se encontrando com alguns animais (insetos e ratos) que iriam se tornar sinantrópicos, pois ali encontravam alimento farto, proteção contra as intempéries e predadores.

A partir daí os que eram selvagens passaram a viver com o homem não retornando mais ao ambiente selvagem, pois neste novo ambiente era mais fácil viver.

Temos duas situações a serem analisadas. Uma é o ambiente humano dentro do qual estão os sinantrópicos. Outro é o ambiente natural onde o homem entra criando novas relações entre um organismo e o homem. Independentemente de qual ambiente estivermos falando sempre irá existir uma relação entre o homem e um agente. E estas relações é que deverão ser bem compreendidas para que possamos gerenciar o controle de forma adequada.

Na maioria das vezes o sinantrópico a ser controlado já não faz mais parte de um sistema ecológico equilibrado e o conseqüente aumento populacional não tem nada a ver com desequilíbrio ambiental no sentido pleno de ecossistema.

Mas sim com o meio criado pelo homem e sua irresponsabilidade com este meio criando todas as condições para a proliferação de ratos e insetos. O crescimento da dengue que o diga, cuja maior responsabilidade está na quantidade de recipientes existentes nos quintais, ruas, terrenos baldios e nas próprias residências ocupadas e desocupadas.

Tem exemplos de Prefeituras que numa atitude paternalista recolhe todo o lixo do peridomicílio sem nenhum comprometimento da comunidade e algum tempo depois está tudo igual. Alguma coisa está faltando.

O sistema ao qual passam a depender e participar é o meio humano, o antropossistema. O ambiente criado pelo homem para suprir suas necessidades e exigências não tem absolutamente nada a ver com um ecossistema tradicional é um novo ecossistema com relações muito especiais.

Há uma nova cadeia alimentar à qual estes sinantrópicos passam a fazer parte. A relação presa-predador é nova. Não há mais a relação homeostática característica dos ecossistemas naturais onde a população de ambo, presa e predador, está na dependência da melhor capacidade de adaptação de um deles.

Se a população de pragas aumenta a população de predadores aumenta e conseqüentemente a população praga diminui e assim também a de predadores. É lógico que não é uma relação direta uma vez que não existem relações específicas. Um predador preda diferentes espécies.

O ambiente humano cria todas as condições propícias ao crescimento da população sinantrópica, basicamente alimento, abrigo e clima.

Ambiente este que foi sendo gerado quando o homem começou a usar pele de animais, o fogo, cavernas e deixando de ser nômade para ser sedentário. São momentos de mudança cultural e comportamental que passaram a trazer para mais próximo do homem pulgas, carrapatos, piolhos ratos, etc.

Começa uma maior intimidade destes com o homem criando-se assim uma nova identidade para eles – sinantrópicos.

O ambiente humano cria novas condições de vida (alimento, abrigo, esconderijos, novos inimigos, novas relações hóspede-hospedeiro) a estes que começam a ter suas populações cada vez maiores.

Daí a necessidade de seu controle, tanto pelo fato de suas populações aumentarem cada vez mais como também por trazerem consigo novas patologias, ressurgimento de antigas e um maior número de agravos.

Esta relação com o homem é uma via de mão dupla. É o homem trazendo consigo condições de subsistência para estes sinantrópicos como entrando em seu ambiente com as conseqüências desta invasão.

Este é o outro lado da questão. Não é o ambiente onde o homem vive criando as condições para o sinantrópico e consequente aumento populacional. É a entrada do homem em ambientes equilibrados desestruturando-o e se aproximando de insetos e ratos existentes neste ambiente dentro de um equilíbrio natural, fazendo parte de uma cadeia alimentar específica.

Nesta situação o homem causa um desequilíbrio ambiental criando uma relação indesejada.
Situações deste tipo temos com a entrada do homem em ambientes onde o carrapato estrela (Amblyoma spp) mantem um ciclo silvestre e com sua população sob controle pela dificuldade em encontrar animais para manter o ciclo.

Entretanto quando o homem penetra neste ambiente seja para produzir alimento ou para lazer passa a fazer parte, acidentalmente, deste ciclo adquirindo, assim, a febre maculosa (Rickettsia rickettsii).

No período de outubro a fevereiro é onde a população adulta do carrapato está mais elevada e coincide com a época em que as pessoas procuram os sítios, chácaras, realizam as caminhadas ecológicas, vão em busca de aventura nestes ambientes selvagens.

O maior problema é que em muitas destas situações ele leva para este ambiente seus cães urbanos que também passam a fazer parte desta cadeia e podendo trazer para o ambiente urbano um carrapato silvestre e que pode acabar se adaptando no ambiente urbano fazendo seu ciclo entre os animais existentes neste meio. Não apenas os cães, mas eqüinos usados no trabalho de carroceiros. Isto sem falar nas criações de animais silvestres como fonte de proteína animal.

Vamos nos lembrar que a população de borrachudos tem aumentado consideravelmente no meio rural e nas cidades próximas pelo aumento de oferta de alimento, matéria orgânica jogada nas coleções de água como de sangue humano e animal.

A febre amarela e a hantavirose são outras situações que se encaixam neste conceito.
A urbanização destes agentes e vetores de ciclo silvestre é só uma questão de tempo, pois o homem não tem limites para a expansão de seus domínios.

Quando falamos em controle populacional devemos ter em mente estas duas situações para que tenhamos o cuidado de desenvolver metodologias gerenciais específicas para ambas tomando todo o cuidado para não impactarmos o ambiente de tal forma que a resposta seja um desastre maior.

E ele espera pois sabe que ainda irão se encontrar. “No fim das contas, o mesmo que acontece com as pessoas acontece com os animais. Tanto as pessoas como os animais morrem. O ser humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois tem de respirar para viver. Como se vê, tudo é ilusão, pois tanto um como o outro irão para o mesmo lugar, isto é, o pó da terra. Tanto um como o outro vieram de lá e voltarão para lá. Como é que alguém pode ter a certeza de que o sopro de vida do ser humano vai para cima e que o sopro da vida do animal desce para a terra?” (Ec. 3:19-21).

sábado, 5 de março de 2011

NÃO EXISTE MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS









Demorei um pouco para publicar um novo post por falta de tempo. Então vamos discutir uma nova questão. 

 É claro que estes posts que tenho publicado refletem o meu pensamento, mas baseado em publicações de cunho técnico e não apenas meu pensamento. É bom quando existem posicionamentos diferentes e esta é a causa da evolução do conhecimento, pois quanto mais trazemos fatos novos a um conceito já existente, mais polido fica este conhecimento. 

Não vamos ficar apenas colocando o que simplesmente pensamos, mas que tenha um fundamento científico, afinal de contas somos técnicos e formadores de opinião. Conceitos que ficam muito tempo arraigados em nossa cultura são difíceis de serem demovidos. 

Uma mudança de atitude, de conceitos, de cultura. Mas temos que estar abertos a novas considerações. E por falar em mudanças me vem à memória uma propaganda da Tim que dizia: Mudanças existem. 

 Alguma coisa está acontecendo! As fronteiras estão se abrindo – É isso que está acontecendo. E toda banda larga será inútil Se a mente for ESTREITA É tempo de mente sem fronteiras. 

 A questão que gostaria de discutir agora é o conceito de Manejo Integrado de pragas. 

 Já no final da década de 50, professores da Universidade da Califórnia publicaram um trabalho sobre o conceito de Integrated Pest Control, que se transformou num marco da Entomologia Aplicada. 

Os autores propuseram uma estratégia de convivência com as pragas, dando oportunidade ao controle biológico natural e recomendando o controle químico quando a população da praga atinge níveis que causam prejuízos maiores do que os custos de controle. Segundo alguns autores este conceito durou uns 10 anos seguido pelo MIP. 

 Alguns autores concordam que o conceito de Integrated Pest Management surgiu logo após o conceito de CIP, onde pesquisadores australianos propuseram uma estratégia alicerçada em conhecimentos ecológicos, econômicos e sociais, visando interferir o mínimo possível no agroecossistema. 

 A proposta da Califórnia preconizava a soma racional do controle biológico com o uso de inseticidas, enquanto que a proposta da Austrália ampliava as opções de controle. Neste sentido a idéia é reduzir o número de aplicações refletindo em economia ao agricultor bem como diminuir o impacto ambiental. 

Entretanto uma dificuldade que ao países apoiadores desta estratégia tem é a de falta de conhecimento da praga a ser combatida e sua relação com o ambiente para se saber quando o nível de dano passa a ser indicativo de aplicação. 

Conhecimentos estes que levaram o pesquisador brasileiro Gravena a adotar a terminologia MEP (Manejo Ecológico de Pragas). 

Esta semana ouvindo um programa de rádio onde um jurista discutia problemas relacionados com a violência infantil ele falava do risco de se traduzir determinadas palavras de forma incorreta o que poderia causar sérios transtornos no tribunal e uma destas era a tradução de Abuso Infantil traduzido de Child Abuse que na realidade significa Violência Infantil e não Abuso Infantil, mas que traduziram pela palavra mais próxima, onde abuso significa fazer repetidas vezes a mesma coisa e que não reflete a gravidade do problema. 

 Apesar desta definição estar anos luz distante do que estamos discutindo ela nos trás à principal razão deste post que é a tradução de Management para Manejo. Na década de 60 entra no Brasil o termo Manejo Integrado de Pragas. 

Provavelmente um agente complicador por traduzir Management como Manejo e não como Gerenciamento que seria a tradução correta. Em Português Manejo significa ação ou resultado de manejar (mover, empunhar com as mãos – manejar o machado; ter conhecimento – Ela maneja bem o inglês; trabalhar com as mãos – Ele maneja bem o cavalo; manipular, dominar - manejar o eleitorado), mas também pode significar administrar, dirigir – a diretora maneja bem a escola. 

O que na essência não estaria errado, mas a palavra gerenciar é muito mais específica, completa e define mais claramente o significado de gerir, que é o sentido que se quer dar ao que passou a se denominar Manejo Integrado. 

Desde o início deveríamos estar falando em Gerenciamento Integrado de Pragas ou simplesmente Gerenciamento de Pragas uma vez que está implícito em gerenciamento o conceito de Integrado, ou seja, a utilização de vários recursos de forma integrada. 

Se pegarmos como exemplo o Gerenciamento de Projetos, atividade em voga ultimamente, é uma disciplina usada para definir e atingir objetivos, otimizando o uso de recursos ( tempo, dinheiro, pessoas, materiais, energia, espaço, etc.) durante o curso de um projeto que usa um conjunto de atividades: planejamento, estimar recursos, organizar o trabalho, adquirir recursos materiais e humanos, designar atividades, controlar a execução do projeto, avaliar o progresso, analisar os resultados obtidos. 

Gerente é a pessoa que coordena a equipe de trabalho. O gerente deve transformar oportunidades e desafios em resultados – Gerente de Sinantrópicos.