CONHECENDO O INIMIGO
Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa
temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo,
para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o
inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.
Sun Tzu – A arte da guerra.
A
província de Hubei que tem como capital Wuhan, foi onde tudo iniciou. Antes de
começarem os casos do novo coronavirus, morcegos já estavam voando pela cidade
já transportando um novo coronavirus. Provavelmente no final de novembro sofreu
uma ligeira mutação evoluindo para a cepa viral que agora chamamos de 2019 nCoV,
SARS-COV-2 ou CoViD-19.
Os
coronavirus já era sabido causarem enfermidades humanas, mas não receberam a
devida atenção.Apesar
da pandemia de SARS e da epidemia de MERS as pesquisas estavam focadas no vírus
influenza, como a gripe aviária, por ter um número significativo de mortes
anuais.
Os
morcegos carregam um número enorme de vírus (Marburg, Hendra, SARS, MERS,
Nipah, Ebola e outros). Por esta razão seu organismo gera inúmeros anticorpos
que aliado à sua temperatura interna alterada pelo mecanismo do voo que gera
muita energia e pelo seu sistema imunológico lento que não mata todos os vírus,
mas os mantem viáveis sem lhes causar dano confere a eles alta capacidade
transmissível.
Assim
ambos convivem harmonicamente, hóspede (vírus) e hospedeiro (morcego) mantendo
a necessidade vital dos vírus que é não matar seu hospedeiro para que ele, o
hóspede, tenha maior sobrevida, pois se o hospedeiro morrer o hóspede também
morre, uma vez que o vírus não tem capacidade de replicar forma do organismo
animal.
A questão é, como os morcegos se contaminaram?
Geração espontânea não existe.
Existem muitas perguntas
sem respostas. Por exemplo, porque morrem mais homens que mulheres pelo novo
coronavírus. Fato este que tem sido encontrado em diferentes partes do mundo: China,
França, Alemanha, Irã, Itália, Coreia do Sul, Espanha, Brasil.
Na China, 64% das mortes
eram homens, no Brasil – 58%, na Itália - 70%, na Coréia do Sul - 54%, na
Espanha, o número de homens mortos é o dobro do de mulheres.
A causa mais provável
teria a ver com o estilo de vida. Ao redor do mundo, homens tendem a beber e a
fumar mais do que as mulheres e, portanto, ficam mais suscetíveis a desenvolver
doenças pulmonares e cardiopatias, o que os fragilizariam caso contraíssem o
coronavírus.
Além disso, fumantes tocam
a boca a todo momento, porta de entrada para o vírus, e têm mais chances de
compartilhar cigarros contaminados.
Estudos mostram que homens
lavam menos as mãos do que as mulheres, tendem a usar menos sabão, assim como
deixam de ir ao médico com regularidade e ignoram os alertas das autoridades de
saúde.
Pesquisas mostraram que as
mulheres geralmente têm sistemas imunológicos mais fortes do que os homens e,
portanto, debelam infecções com mais facilidade.
Sabemos cada vez mais que
há diferenças de gênero substanciais na resposta imune para uma gama de
infecções e, no geral, as mulheres reagem mais forte e agressivamente diz Philip
Goulder, professor de Imunologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido.
De acordo com estudo
recente publicado na revista científica Human Genomics, o cromossomo X contém
um grande número de genes relacionados à imunidade e, como as mulheres têm dois
deles (os homens só tem), largam na frente no combate a doenças.
Especialmente, genes que
decodificam a proteína que detecta os vírus, como o coronavírus. Isso significa
que a resposta que as mulheres vão ter contra esse vírus será, de forma geral,
mais forte do que a dos homens", explica Goulder.
Pesquisas também
descobriram que o estrogênio, hormônio sexual muito mais prevalente nas
mulheres, protegeu fêmeas de camundongos infectadas pelo vírus da SARS
(Síndrome Respiratória Aguda Grave), causada por outro tipo de coronavírus e
responsável por um surto em 2003. Durante essa epidemia, os homens também tinham
uma taxa de mortalidade muito superior à das mulheres.
O mesmo ocorreu durante o
surto da Mers (Síndrome respiratória do Oriente Médio) que surgiu em 2012 na
Arábia Saudita e se espalhou por outros países da região. Até durante a gripe
espanhola de 1918, que matou 50 milhões de pessoas ao redor do mundo, homens
eram mais propensos a morrer do que mulheres.
Além disso, a
testosterona, hormônio sexual mais predominante nos homens, tende a ser
imunossupressora. Essa é a razão pela qual homens com níveis mais altos de
testosterona tendem a responder pior às infecções respiratórias, por exemplo.
Contudo, apesar das
evidências cada vez mais crescentes, especialistas dizem que mais dados são
necessários para determinar por que morrem mais homens do que mulheres de
covid-19.
Recentemente, o Global
Health 50/50, um instituto de pesquisa ligado à Universidade College London, no
Reino Unido, analisou os dados públicos disponíveis de 20 países com o maior
número de casos confirmados de coronavírus até o dia 20 de março. O objetivo
era entender por que mais homens estariam morrendo de covid-19 do que mulheres.
Desses 20 países, apenas
seis tinham dados por gênero tanto para casos confirmados quanto para mortes -
China, França, Alemanha, Itália, Irã e Coreia do Sul. Outros sete somente para
o número de casos confirmados.
O levantamento ainda não
foi submetido a nenhuma revista científica para publicação e tampouco revisado.
Quando observamos os dados
desses países, a taxa de mortalidade dos homens por covid-19 pode superar a das
mulheres em um patamar que varia de 10% a 90%", diz Sarah Hawkes,
professora de saúde pública global na Universidade College London (UCL), no
Reino Unido.
Especialistas acreditam
que, se mais países tivessem informações mais detalhadas por gênero, governos
poderiam basear-se nesses dados para formular políticas públicas de combate ao
coronavírus. O que a covid-19 revela é um caso clássico de falha no uso de
dados para a tomada de decisão.
Mas os dados não são
coletados e analisados sob o prisma do gênero", diz Kent Buse, cofundador
do GH50/50 e diretor da Unaids, agência da ONU para a Aids.
Todos os dados sobre
risco, capacidade de recuperação, grau de infecção são cruciais em uma
pandemia", acrescentou Arthur Kaplan, professor de Bioética na
Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.
Em
um estudo de 2015, o epidemiologista Ralph Baric e seus colegas da Universidade
da Carolina do Norte analisaram os genomas dos coronavírus de morcego e
alertaram: "Nosso trabalho sugere um risco potencial de ressurgimento de
SARS-CoV de vírus que circulam atualmente em populações de
morcegos".
Um
segundo artigo do mesmo grupo no ano seguinte alertou que outra doença
semelhante à SARS dos coronavírus de morcegos estava "preparada para o
surgimento humano".
Os
morcegos carregam uma grande quantidade de membros da família dos coronavirus
além de outras doenças humanas. Neste processo de reprodução viral dentro de
seu reservatório podem ocorrer mutações permitindo que infectem outros animais,
incluindo humanos.
Duas
mutações ocorreram nestes vírus preparando o caminho para o CoViD-19. Uma delas
foi a mudança em suas espículas S (spike), que é a chave, permitindo que ele se
prenda aos receptores da membrana celular, a proteína ACE2 na membrana celular
humana, que seria a fechadura.
A
segunda mutação importante permitiu ao coronavírus mudar a conformação de suas
espículas ao ser atacada pela proteína humana a Furina permitindo que a
espícula se molde aos receptores da membrana celular humana que não seja a
ACE-2. A proteína furina é que tornou o vírus COVID-19 tão infeccioso e
mortal para os seres humanos.
Estas
mutações podem ter ocorrido nos morcegos enquanto voavam, pode ter surgido em
uma pessoa infectada por uma versão anterior do vírus, mas sem sintomas ou em
um hospedeiro intermediário como o Pangolim cuja carne é muito apreciada além
do alegado valor medicinal de suas escamas.
Os
vírus da gripe conseguem infectar as pessoas continuamente porque as proteínas
em suas superfícies continuam mudando. Seu sistema imunológico falha em
reconhecer as proteínas rearranjadas dos vírus, então você precisa de uma nova
vacina contra a gripe todos os anos.
Felizmente,
o SARS-CoV-2 é um pouco diferente. Os vírus da gripe têm um conjunto muito
menor de genes e circulam constantemente entre várias espécies - porcos,
pássaros e pessoas. Ambos os atributos tornam as mutações mais prováveis
na gripe do que nos coronavírus, que contêm um dos maiores genomas virais de
RNA e que saltam através das barreiras das espécies com muito menos frequência.
E
logo após o início do surto atual, o governo chinês fechou as vendas de animais
vivos para fins medicinais e alimentares nos mercados úmidos pouco
regulamentados. Em tese.
Por
outro lado, a China fez o mesmo após o surto de SARS, quando os epidemiologistas
deduziram que o vírus começou em morcegos e se espalhou por um animal felino
chamado Civeta, também vendido nos mercados. Ao longo dos anos, tradição e
corrupção, silenciosamente permitiram a reabertura do mercado.
Os coronavírus comportam um grande grupo de vírus,
alguns dos quais patogênicos para o ser humano, cujas infeções, normalmente,
estão associadas a manifestações clínicas do foro respiratório, sem grande
gravidade, nas quais se incluem algumas constipações.
Contudo, em situações excecionais, as infeções
causadas por qualquer um dos coronavírus humanos (HCoV-229E, o HCoV-NL63, o
HCoV-OC43 e o HCoV-HKU1) podem evoluir para pneumonias e bronquiolites graves,
especialmente em idosos, crianças e pessoas imunodeprimidas.
Para além dos sintomas respiratórios, estes
coronavírus humanos podem causar doenças com manifestações intestinais e
neurológicas.
Na última década, no entanto, dois novos destes
vírus revelaram-se à ciência como agentes infeciosos altamente patogênicos para
os humanos, causando infeções potencialmente letais.
São eles os coronavírus responsáveis pelas
síndromas respiratórias aguda severa (conhecidos como o coronavírus SARS (do
inglês Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus) ou SARS-CoV, e o coronavírus
da síndrome respiratória do médio oriente, conhecido como coronavírus MERS-CoV
(do inglês Middle East Respiratory Syndrome-related Coronavirus) que causa,
igualmente, sintomatologia renal).
O processo mutagênico que
foi responsável pela sua maior infectividade foi a proteína Furina. Para melhor
entendermos o mecanismo de ação da Furina precisamos ir ao nível das organelas
citoplasmáticas humanas.
Todo ser vivo é formado por células. O conjunto de
células forma um tecido e o conjunto de um mesmo tecido gera um órgão.
Uma célula é formada por uma membrana plasmática que delimita
seu conteúdo e controla a saída e entrada de substâncias. Dentro do citoplasma
encontra-se o núcleo e as organelas.
Organelas são estruturas celulares que
ficam no citoplasma da célula. Elas são responsáveis por todo
o funcionamento da célula, e cada uma possui uma função
específica:
·
Núcleo –
centro de controle das atividades celulares, armazena o material genético
·
Ribossomos –
síntese de proteínas
·
Centríolos –
divisão celular
·
Retículo
endoplasmático – transporte de substâncias dentro da célula
·
RE Rugoso – recebe
este nome por conter os ribossomos aderidos à sua superfície, faz a síntese de proteínas
·
RE Liso – síntese
de lipídios e desintoxicação celular
·
Complexo de golgi –
modificação,
armazenamento e exportação das proteínas sintetizadas no retículo
endoplasmático;
·
Lisossomos –
digestão intracelular
·
Mitocôndrias –
respiração celular (produção de energia)
·
Vacúolos –
armazenamento de substâncias
Dentro das células temos o
Retículo endoplasmático rugoso e o liso. O rugoso é assim chamado por
apresentar aderido às suas membranas uma série de organelas chamadas de ribossomos
cuja função é produzir proteínas.
O Retículo Endoplasmático Liso tem a função de produzir
hormônios (testosterona e progesterona) e lipídios (gorduras), produção do acrossomo
(cabeça do espermatozoide), produção das enzimas digestivas do pâncreas.
A função mais importante do Complexo de Golgi é a secreção
das proteínas produzidas no retículo endoplasmático rugoso, mas também os
hormônios e lipídios.
Estes ribossomos podem ser
encontrados além do RER no citoplasma e nas mitocôndrias.
Estes ribossomos vão
produzir as proteínas necessárias a cada local do corpo animal sendo formadas
por uma cadeia de aminoácidos. Cadeia esta que será diferente de acordo com a
proteína que será formada.
Os ribossomos são
produzidos no núcleo se deslocando para o RER onde alguns ficam aderidos às
paredes enquanto que outros são deslocados para o REL e daí para o citoplasma e
mitocôndrias.
Cada molécula de
aminoácido é composta de um átomo de C (carbono), que se ligará a um H (hidrogênio),
a um grupo (N) amino, a uma carboxila e a um grupo orgânico que chamaremos de R
(resíduo). Este grupo residual difere de aminoácido para aminoácido e determina
sua propriedade.
Existem 20 aminoácidos no
total, sendo doze naturais (produzidos pelo organismo) - alanina, arginina,
asparagina, ácido aspártico, ácido glutâmico, cisteína, glutamina, glicina,
prolina, serina, tirosina e histidina e oito essenciais (não são produzidos
pelo organismo, por isso devem ser ingeridos com a alimentação ou com
suplementação) - triptofano, valina, fenilalanina, treonina, lisina, isoleucina,
leucina e metionina.
Os aminoácidos vão se ligando
para formar uma determinada proteína, então uma proteína é um conjunto de
aminoácidos.
Um peptídeo contém dois ou mais aminoácidos e um
polipeptídeo, por outro lado, contém dez ou mais aminoácidos. Uma proteína é formada pela união de vários aminoácidos,
vários peptídeos, então a proteína é chamada de polipeptídeo.
Enzimas são proteínas
(polipeptídeos) que atuam controlando a
velocidade e regulando as reações que ocorrem no organismo. Elas catalisam (aceleram) reações químicas específicas atuando
sobre substratos específicos e em locais específicos desses substratos.
Uma destas enzimas (proteínas) é
a Furina.
Endopeptidase é uma enzima que acelera a quebra de ligações
peptídicas dentro de um polipeptídeo (proteína), ou seja, quebra as ligações existentes
dentro da cadeia da proteína.
As endopeptidases quebram
as ligações peptídicas dos aminoácidos dentro da proteína, em contraste com as
exopeptidases, que quebram a proteína nas suas partes mais terminais.
Uma endopeptidase é um tipo de protease, uma enzima de um
grande grupo que destrói proteínas. As enzimas são proteínas que fazem as
reações acontecerem muito mais rapidamente.
Furina é uma proteína produzida
no RER e secretada pelo aparelho de Golgi. É responsável pela maturação
proteolítica (ativação ou inativação) de muitas proteínas precursoras nas vias
secretória e endocítica das células de mamíferos.
Uma exopeptidase acelera a quebra da ligação
peptídica terminal ou penúltima, liberando um único aminoácido ou dipeptídeo da
cadeia peptídica.
A endopeptidase é amplamente distribuída em vários
tecidos (por exemplo, membranas das bordas dos rins, intestinais e
placentárias, células imunes, plexo coroide, alguns neurônios no cérebro e
células de Schwann).
Uma endopeptidase é um tipo de protease, uma
enzima de um grande grupo que degrada proteínas. As enzimas são proteínas que
fazem as reações acontecerem muito mais rapidamente.
As proteínas são compostas
por cadeias de aminoácidos, ligadas por ligações peptídicas. Essa ligação
conecta o terminal carboxil de um aminoácido com o terminal amino do próximo.
As endopeptidases são encontradas em todas as
classes de organismos e possuem uma ampla gama de atividades biológicas. Eles
estão envolvidos na digestão de proteínas nos alimentos. Isso inclui as enzimas
pepsina, tripsina e quimotripsina.
A Furina atua como uma protease, um tipo de enzima
que decompõe proteínas em proteínas menores ou em unidades de proteína menores,
como peptídeos ou aminoácidos.
Uma protease é um membro
de um grupo muito grande de enzimas que têm uma variedade de funções no corpo.
Sem protease, o corpo não
seria capaz de digerir a proteína nos alimentos, por exemplo.
Estes também são chamados
de enzimas proteolíticas.
As proteases são tipos de
proteínas que aceleram a degradação de outras. Eles diferem na maneira como
realizam essa atividade.