Descrição: Doença febril aguda, de curta
duração (no máximo 12 dias) e gravidade variável. Apresenta-se como infecções
subclínicas e/ou leves até formas graves, fatais.
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
vol.36 no.2 Uberaba Mar./Apr. 2003 |
O caso pode evoluir para cura ou para a forma grave (período de intoxicação), caracterizada pelo aumento da febre, diarréia e reaparecimento de vômitos com aspecto de borra de café, instalação de insuficiência hepática e renal.
Rev. Soc. Bras. Med. Trop.
vol.36 no.2 Uberaba Mar./Apr. 2003
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1. Reservatório:
Na forma silvestre principalmente os primatas pertencentes ao gênero
Alouatta (guariba), Ateles (macaco aranha) e Callithrix
(sagui) são muito sensíveis ao vírus e apresentam alta taxa de letalidade
enquanto o Cebus (o termo macaco-prego é, atualmente, a designação genérica das
espécies do gênero Cebus) é
facilmente infectado e tem baixa taxa de letalidade e desenvolvem imunidade.
Ainda são reservatórios o Homem,
mosquitos, marsupiais e ratos.
Vetor: O Aedes albopictus se
introduziu no Brasil, em 1986, através do estado do Rio de Janeiro,
provavelmente importado dos Estados Unidos, tendo rapidamente se expandido para
os estados do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
Possui este mosquito a capacidade de combinar os ciclos silvestre e urbano da FA, no continente americano. Sem dúvida, ainda não se comprovou qualquer participação desta espécie na transmissão da doença.
No Brasil, a espécie Haemagogus janthinomys é a que mais se destaca na perpetuação do vírus.
Haemagogus janthinomys
Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.36 no.2 Uberaba Mar./Apr. 2003
Período de incubação: 3 a 6 dias
Período patogênico: 12 dias
Período pré-patente: 5 dias
Período
de transmissibilidade: O período de transmissibilidade da doença compreende dois ciclos: um
intrínseco, que ocorre no ser humano, e outro extrínseco, que ocorre no vetor.
A viremia humana dura, no máximo, 7 dias, e vai desde 24 a 48 horas, antes do aparecimento dos sintomas, a 3 a 5 dias, após o início da doença, período em que o homem pode infectar os mosquitos transmissores.
No mosquito, após um repasto de sangue infectado, o vírus vai se localizar nas glândulas salivares da fêmea do mosquito, onde se multiplica depois de 8 a 12 dias de incubação. A partir desse momento, é capaz de transmitir o vírus amarílico até o final de sua vida (de 6 a 8 semanas) e ainda há transmissão transovariana.
Transmissão: picada do vetor
Letalidade: Nas formas graves chega a 50%, quando se considera todos os
quadros clínicos fica entre 5 e 10%.
Ecologia: A febre amarela é uma doença silvestre que circula entre os primatas e
mosquitos. O homem acidentalmente se infecta e podendo vir ao meio urbano
encontra o Aedes spp podendo reiniciar um ciclo urbano. O Aedes
precisa de coleções de água que não precisam ser permanentes pois os ovos podem
ficar meses fora da água. Com isto facilita a dispersão do vetor.
Manual
de Zoonoses Vol. 1 – CRMV-RS |
Em geral, apresenta-se sob a forma de surtos com intervalos de 5 a 7 anos, alternados por períodos com menor número de registros.
Na população humana, geralmente o aparecimento de casos é precedido de epizootias em primatas não humanos. No Brasil, a partir da redução populacional do vetor urbano em 1942, só há ocorrência de casos de FAS e os focos endêmicos até 1999 estavam situados nos estados das regiões Norte, Centro-oeste e área pré-amazônica do Maranhão, além de registros esporádicos na parte oeste de Minas Gerais.
Guia de
Vigilância Epidemiológica – Ministérioo da Saúde 2010
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Nos surtos ocorridos no período de 2000 a 2009, observou-se uma expansão da
circulação viral no sentido leste e sul do país,
detectando-se sua presença em áreas silenciosas há várias décadas.
Foram redefinidas, então, duas áreas no País:
a) área com recomendação de vacina (ACRV), correspondendo
àquelas anteriormente denominadas endêmica e de transição, com a inclusão do
sul de Minas Gerais, até então considerado “área indene de risco potencial”;
b) área sem recomendação de vacina (ASRV), correspondendo,
basicamente, às “áreas indenes”, incluindo também o sul da Bahia e norte do
Espírito Santo, que antes eram consideradas “áreas indenes de risco potencial”.
No período de 1980 a 2009, foram confirmados 772 casos, dos quais 399 evoluíram para óbito, letalidade média de 51,7% com variação de 24 a 100%. Todas as unidades federadas da região Norte registraram casos no período, ainda que esporádicos, sendo responsáveis por 33,7% das notificações do país, nas três últimas décadas. A região Centro-oeste notificou 28,6% dos casos do período e a região Sudeste 20,7%. O Nordeste (Maranhão e Bahia) foi responsável por 14,2% dos casos e a região Sul (Paraná e Rio Grande do Sul) por 2,8%.
Outro grupo de risco são pessoas não vacinadas que residem próximas aos ambientes silvestres, onde circula o vírus, além de turistas e migrantes que entram nestes ambientes.
A maior frequência da doença ocorre nos meses de janeiro a abril, período com maior índice pluviométrico, quando a densidade vetorial é elevada, coincidindo com a época de maior atividade agrícola.
A febre amarela urbana não ocorre no país desde 1942. Enquanto não havia registro do vetor urbano o Ae. aegypti havia uma relativa segurança quanto a não possibilidade de reurbanização do vírus amarílico. Entretanto, a reinfestação de extensas áreas do território brasileiro por esse vetor, inclusive já presente em muitos dos centros urbanos das áreas de risco, traz a possibilidade de reestabelecimento do ciclo do vírus.
Consideram-se como potenciais fatores de risco para reurbanização da febre amarela no Brasil:
• expansão territorial da infestação do Ae. aegypti, já
detectada em 4.007 municípios, distribuídos por todas as unidades federadas;
• áreas com Ae. aegypti superpostas
a áreas de circulação do vírus amarílico;
• presença do Ae. albopictus em estados
das regiões endêmicas e de transição;
• áreas urbanas infestadas por Ae. aegypti próximas de
áreas de risco para febre amarela silvestre;
• intenso processo migratório rural-urbano
(caminhadas ecológicas, cafés e restaurantes coloniais, pousadas rurais, etc.)
levando à possibilidade de importação do vírus amarílico dos ambientes
silvestres para os urbanos.
Controle: Vacinação, onde os anticorpos aparecem de 7 a 10 dias depois da
vacinação e persistem pelo menos por 17 anos ou mais. Controle do vetor,
controle de focos, educação para a saúde, cuidados em áreas florestais. Não há
necessidade de isolamento e nem de quarentena.
Não existe tratamento específico.
É apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente que, sob
hospitalização, deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos e das
perdas sanguíneas, quando indicado. Nas formas graves, o paciente deve ser
atendido em uma unidade de terapia intensiva, o que reduz as complicações e a
letalidade.