PARTE 6
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE INFESTAÇÃO
Avaliar o nível de infestação é uma busca constante. Todos querem
saber qual a população existente em determinado local.
Entretanto esta é uma possibilidade, em termos práticos, incapaz de
ser realizada e de pouca importância para a realização de combate.
É comum encontrarmos tentativas de se fazer este cálculo ou estimar a
população sobre algum fato como, por exemplo, dizer que para cada rato visto de
dia existem, pelo menos, mais 10 ratos. Isto é uma falácia, ou seja, é um
argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na
capacidade de provar eficazmente o que alega.
Uns tentam definir os níveis de infestação em baixa, média ou alta
baseada na quantidade de vestígios encontrados. Outra falácia, uma vez que não
temos como saber se apenas um rato deixou tantas marcas pelo constante
movimento pelo mesmo local ou vário em momentos diferentes. É impossível saber.
Existem aqueles que entendem como científica a avaliação da população
através do censo por consumo.
Este conceito se baseia no princípio de se ofertar, em diferentes pontos
no local que se quer avaliar a população, quantidades iguais e pré-pesadas de
alimento, geralmente 30g, repesando-o no dia seguinte. Dobra-se a quantidade
nos locais onde houve consumo total. E isto vai se fazendo diariamente até que
haja uma estabilidade de consumo.
Depois se divide o total consumido por 15 (média diária de consumo por
rato, em gramas) chegando-se a um número aproximado de quantos ratos existem
neste local.
Devemos considerar que está é uma técnica impossível de se fazer
porque não há como evitar que os ratos ingiram outros alimentos. E isto já
invalida o procedimento.
Ainda tem o fato de que não se explica este número mágico de 15g.
Sabe-se que os ratos consomem por dia o equivalente a 10% de seu peso. A partir
daí esta média de consumo, 15g, só poderia existir se houvéssemos capturado um
x número de ratos, pesando-os para saber quanto seria a média de peso e qual
seria a média de consumo baseando-se no consumo diário de 10% de seu peso.
MÉTODO DE CAPTURA E RECAPTURA
O método da captura e recaptura é um método científico bastante usado
em trabalhos de densidade populacional. É um método usado para diferentes
espécies animais e que pode ser usado para avaliar a densidade populacional de
ratos. Válido por ser uma metodologia científica.
N = número de animais que se quer saber
a = número de capturados, marcados e soltos
b = número de recapturados
c = número de recapturados e já marcados
Conhecendo-se o
número de indivíduos que foram marcados (b) e o número de indivíduos marcados
na segunda amostra (c), pode-se
facilmente, construir uma regra de proporcionalidade: a/N = b/c, onde N (a
população total) é a incógnita que se deseja conhecer.
a/N = c/b
onde N = ab/c
Ao fazer este cálculo supõe-se população estável (sem migração, sem
mortalidade e natalidade) e que a captura de um indivíduo pela primeira vez não
modifica seu comportamento nem torna mais fácil nem mais difícil uma segunda
captura e que a marcação não o exclua da população e nem dificulte ou facilite
sua recaptura.
Este método só tem boa aplicação quando os números (a), (b), (c) e (N)
são bastante grandes, do contrário os erros são grandes. Pode-se avaliar os
valores superior e inferior prováveis do efetivo procurado.
Presumivelmente, a proporção de indivíduos já marcados (c) em relação
ao conjunto da segunda amostra capturada (b) é a mesma entre o conjunto dos
indivíduos marcados na primeira amostra (a) e a população inteira (N).
Valor superior e inferior da população:
Condições: população estável, sem emigração, imigração, mortalidade,
natalidade e a captura de um animal não modifica seu comportamento, não
facilita nem dificulta sua recaptura. Neste caso teremos uma probabilidade de
95% de acerto.
N1 e N2 estes valores limites (superior e inferior)
b = número de recapturados
c = número de recapturados e marcados
d =
1/b x c/b
x b – c/b
d
= erro padrão
Deste cálculo se deduz N1 e N2
Outros métodos indiretos são menos
precisos mas podem úteis nos ensaios de avaliação de eficácia: pré-censo +
tratamento + pós-censo = eficácia (percentagem de controle obtido), como censo
por captura, censo por pegada, censo por contagem de tocas, etc.
Neste caso não vamos entender censo no
sentido de quantidade mas sim como aumento, redução ou sem alteração.
Ou seja, se antes do combate havia
muitos vestígios e depois do combate estes vestígios são velhos ou apareceram
poucos vestígios novos então significa que o combate está sendo eficaz.
Também podemos usar o que se enxerga à
noite, por exemplo, pessoal que trabalha em uma unidade armazenadora à noite.
Se antes eles diziam que viam muito rato à noite e agora reduziu bastante
significa que o combate está sendo eficaz.
Se antes tínhamos um grande dano às
sacarias e agora reduziu significa que o combate está sendo eficaz.
No final é isto que interessa: se o
combate está sendo eficaz ou não. Se não estiver vamos ter que reavaliar o
processo.
Caso seja necessário, como vimos acima,
é possível se realizar uma avaliação de densidade populacional de forma
científica. A questão é: qual a necessidade?
Não são muitas as razões para este
conhecimento. Mas poderíamos pensar em conseguir verba pública para a
realização de um trabalho de combate no tocante à compra de insumos para tal.
Poderia ser para um trabalho de
conclusão de curso de graduação ou pós-graduação. Mas mesmo assim este teria
que ter uma aplicabilidade prática o que não se justifica.
Saber que em determinado local existem
7, 8 ou 10 ratos por habitante não teria muita razão em se saber porque não
vamos ficar avaliando tal densidade para mostrar a eficácia de um determinado
combate.
Na prática o importante é se avaliar
antes e depois de um combate. Ou seja, procuram-se vestígios, identifica-os em
um croquis, realiza-se o combate, analisa-se em gráficos a curva de consumo,
entende-se que o controle foi alcançado na medida que o consumo reduziu significativamente,
limpa-se os vestígios e verifica-se se estes continuam existindo, se reduziu ou
desapareceu. Então podemos dizer que o controle foi obtido.
Este controle avaliamos de duas
maneiras: pelo consumo de iscas e pela presença ou não de vestígios. São
observações fáceis e rápidas de serem realizadas a nível de campo.
Existe a possibilidade sim de se avaliar
infestação de área residencial e/ou comercial. Neste caso existem métodos
científicos para se avaliar o nível de infestação predial à semelhança do que
se faz com o combate ao Aedes aegypti.
Por exemplo, o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de “Especialista em Saúde Pública” por Eduardo Mais, intitulado Avaliação da efetividade das ações de controle de roedores na região do Campo Limpo, Município de São Paulo/SP, 2006.
Este
trabalho é demonstrado cientificamente e pode ser usado a nível de campo para
ter uma ideia de prioridade de em que área o combate irá ser realizado. Como
também podemos usar o número de pessoas atendidas por leptospirose.