sábado, 26 de janeiro de 2013

EPIDEMIOLOGIA APLICADA ÀS ZOONOSES – PARTE I - O QUE É ISTO?

Zoonoses, segundo a Organização Mundial da Saúde são doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos. Isto significa que o animal ou pessoa pode estar doente ou infectado (tem o parasita mas não tem a doença mas pode transmitir este parasita para outro animal ou pessoa e ficar doente ou não).

Zoonoses podem ser adquiridas quando adultos ou crianças entram em contato com animais de estimação como cachorro, gato, aves e outros, ou pela ingestão de carne contaminada de animais como o gado ou o porco ou através do contato direto com ratos, moscas e baratas ou indiretamente  através da ingestão de água ou alimentos contaminados.
Segundo a OMS, existem mais de 200 zoonoses distribuidas em diferentes partes do mundo.

As zoonoses fazem parte da Saúde Pública Veterinária e representam a área de intersecção entre a Saúde Pública e a Saúde Animal.
 
Neste grupo de doenças transmissíveis os responsáveis pela perpetuação dos parasitas são os animais vertebrados em suas diferentes categorias: selvagens, domésticos produtores de alimento, trabalho ou companhia inclusive os ratos e insetos.
Os parasitas das zoonoses estão presentes tanto em ecossistemas naturais como naqueles modificados pela ação humana.
Se nos últimos anos foi possível o controle e até a erradicação de algumas doenças transmissíveis humanas como varíola, difteria, poliomielite e sífilis, as zoonoses passam a ser, na atualidade, um dos maiores desafios para a saúde humana.

 
HISTÓRICO DAS ZOONOSES
Admite-se que as zoonoses ocorram desde os tempos pré-históricos da humanidade, no entanto é no período neolítico (período da pedra polida, a partir de oito mil anos antes de Cristo, que as condições favoráveis para transmissão de agentes de doenças transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos, se ampliaram pois foi nesta ocasião que se iniciou estruturação da agricultura, a domesticação dos animais e o início da vida urbana organizada em aldeias.
Outro momento na história da humanidade atribuído como importante para a ocorrência e expansão das zoonoses é o período da Idade Média, (800 a 1.200 anos depois de Cristo), quando se estruturaram as cidades medievais dentro dos castelos feudais que passaram a reunir condições próprias representadas por: aglomeração de pessoas, alimentos e resíduos que favoreceram o crescimento das populações de ratos e insetos que ocupam o mesmo ambiente utilizado pelos seres humanos.
Destes o principal exemplo são os ratos originários da Ásia que se distribuíram pelo mundo todo através das navegações.
Esta condição explica as grandes epidemias de Peste Bubônica, registradas durante a Idade Média.
Partindo-se para atualidade, constata-se que o crescimento populacional é variável nas diferentes regiões do mundo, no entanto há uma relação inversa ao desenvolvimento econômico, assim enquanto em 1970, 11 de 20 aglomerações urbanas existentes no mundo com população igual ou superior a 5 milhões de habitantes, estavam nos países menos desenvolvidos.         
No ano 2000, 33 das 45 aglomerações urbanas com esta característica situavam-se nos países menos desenvolvidos.          
Portanto o crescimento populacional tem sido maior justamente nas regiões que apresentam piores condições de qualidade de vida.
Se nos últimos anos foi possível o controle e até a erradicação de algumas doenças transmissíveis humanas como varíola, difteria, poliomielite e sífilis, as zoonoses passam a ser, na atualidade, um dos maiores desafios para a saúde humana.
 
SAÚDE E DOENÇA
Estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade (OMS).
Na realidade não existe uma condição estável de saúde ou doença mas sim uma busca constante de equilíbrio do organismo procurando se ajustar, de forma satisfatória, às forças que tentam romper este equilíbrio procurando perturbá-lo (Perkins, 1938).
O conceito de saúde da população está implícito no que  poderíamos chamar de valor médio resultante do agrupamento  dos diferentes graus de saúde dos indivíduos que a compõem, configurando o gradiente de saúde da população que reflete, em última instância, sua qualidade de vida.
Tomando uma população poderíamos encontrar diferentes categorias de indivíduos que corresponderiam aos variados níveis de saúde:
 a) Grupo de indivíduos que eles próprios se sentem doentes;
b) Grupo de indivíduos, que mesmo estando doentes não o percebem e só pode ser descoberta por recursos propedêuticos;
c) Grupo de indivíduos onde existem alterações fisiológicas e teciduais mas não detectáveis por recursos diagnósticos existentes;
d) Grupo de indivíduos que sem alteração alguma capaz de configurar um agravo poderiam, em razão de estado emocional, ser distribuído segundo uma escala crescente de saúde até atingir o ideal da OMS.
As doenças transmitidas por vetores/reservatórios vão além da simples relação entre agente e hospedeiro.
Tem os aspectos relacionados à tríade epidemiológica: agente, vetor e susceptível sem desconsiderar o ambiente que é o palco onde estes atores atuam.
 Apenas o uso de químicos sem considerar os demais aspectos não resolverá o problema, principalmente quando medidas são tomadas apenas no momento da crise.
A análise de uma epidemia é muito diferente de um caso específico. Neste, ela se repete, naquela não. Ela é um fenômeno coletivo com diversas expressões sociais, biológicas, epidemiológicas. Ela é única.
Ao se estudar as razões pelas quais determinada doença atinge uma população é fundamental identificar as inter-relações dinâmicas envolvendo as condições sócio-econômico-cultural, ecológicas e as condições entre o agente e o organismo sadio que permitem a instalação da doença.
O conhecimento destes fatores torna a prevenção possível na medida em que se removam fatores responsáveis pela doença.
Prevenção em saúde pública é a ação antecipada com base no conhecimento da história natural da doença (conjunto de processos interativos do agente, do suscetível e ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico, passando pela resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte), tendo por objetivo interceptar ou anular a evolução de uma doença.
Prevenir e prever antes que algo aconteça ou mesmo, cuidar para que não aconteça.
Enfrentar ou interceptar uma causa conduz a prevenir ou fazer cessar seu efeito” (Perkins, 1938)
Torna-se, pois, indispensável a identificação das causas e a descoberta do modo como participam do processo doença, para que se torne possível uma ação efetiva, capaz de antagonizá-las e, por conseguinte, prevenir seus efeitos. Esses são os propósitos da Epidemiologia.
EPIDEMIOLOGIA CONCEITUAL
Epidemiologia é a ciência que estuda as condições de saúde e a distribuição das doenças em uma comunidade, analisando suas causas e levando sempre em conta o hospedeiro, o meio e o agente etiológico, a fim de sugerir medidas específicas de prevenção, de controle ou de erradicação (Rouquayrol, 1983)
USOS DA EPIDEMIOLOGIA
- Descrever as condições de saúde da população
 - Investigar os fatores determinantes da situação de saúde
- Avaliar o impacto das ações para alterar a situação de saúde
- Determinar as causas (ambientais, genéticas, etc) que levam um indivíduo sadio a ficar doente.
- Descrever o estado de saúde da população
 
 A Epidemiologia se interessa não apenas pela causa da doença em sí, mas também por todos os fatores capazes de influenciá-la” (Brendan, 1975).
É a necessidade de remover fatores ambientais contrários à saúde, ou de criar condições que a promovam, que determina a problemática própria da epidemiologia analítica” (Rouquaryol, 1983). É o estudo do que está ou ocorre sobre a população.
 
Sob o ponto de vista do bem público, uma das implicações práticas da epidemiologia é que o estudo das influências externas tornam a prevenção possível, mesmo quando a patogênese da doença concernente não é ainda compreendida” (Acheson, 1979).
Sob o ponto de vista epidemiológico tem interesse nas relações agente-suscetível-ambiente”.  (Rouquaryol, 1983)
“A História Natural Epidemiológica, denominada por Leavell & Clark (1976) como período pré-patogênico, é a própria evolução das inter-relações dinâmicas envolvendo os condicionantes sócio-econômicos e ecológicos e as condições intrínsecas do suscetível até ao estabelecimento de uma configuração de fatores que sejam propícios à instalação da doença no suscetível. É também a descri,ào desta evolução. Envolve as interações entre o agente da doença no organismo sadio e as condições sócio-econômico-culturais que permitem a existência desses fatores”.
AGRAVO é o dano  acarretado à estrutura orgânica ou funcional de um hospedeiro como consequência da ação de um agente causal. (Côrtes, 1993)
AVALIAR consiste fundamentalmente em fazer um julgamento de valor a respeito de uma intervenção ou sobre qualquer um de seus componentes, com o objetivo de ajudar na tomada de decisões (Hartz, 2000)
Uma INTERVENÇÃO é constituída pelo conjunto dos meios (físicos, humanos, financeiros, simbólicos) organizados em um contexto específico, em um dado momento, para produzir bens ou serviços com o objetivo de modificar uma situação problemática (Hartz, 2000)
VIGILANCIA EPIDEMIOLOGICA
É o conjunto de procedimentos permanentes por meio do qual tomamos conhecimento dos eventos relacionados com a presença de doenças em determinada área geográfica tendo como propósito básico a obtenção contínua de conhecimentos sobre os componentes envolvidos com a ocorrência de doenças, visando oferecer elementos de apoio aos programas de prevenção, tanto a nível de controle como de erradicação destas tendo como objetivos:
1. Obter informações acerca de doenças segundo a área geográfica, o tempo e os agentes responsáveis;
2. Recursos disponíveis para seu controle;
3. Fatores ambientais relevantes, tanto de natureza física como biológica e sócio-econômico-cultural;
4. Processar as informações obtidas como registro, análise, organização,  interpretação e publicação dos resultados gerando novos conhecimento pertinente à realidade existente.